A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) realiza, amanhã, uma Cimeira em Abuja, Nigéria, para discutir a crise política no Níger, após o golpe de Estado.
O anúncio foi feito, ontem, pelo porta-voz do bloco regional, Emos Lungu, refere a Reuters. No domingo, o prazo estipulado pela CEDEAO à Junta Militar no poder no Níger para restabelecer a ordem constitucional no país terminou sem que o ultimato fosse cumprido, isto numa altura em que a Air France anunciou a suspensão de voos para Niamey.
Entretanto, o Exército maliano anunciou que o Mali e o Burkina Faso vão enviar uma delegação oficial conjunta a Niamey em “solidariedade” para com o Níger, de acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Níger. O Mali e o Burkina Faso, onde os militares também tomaram o poder pela força em 2020 e 2022, já tinham avisado, numa declaração conjunta, que consideravam uma intervenção militar no Níger como uma “declaração de guerra”.
Na segunda-feira, a Air France anunciou a suspensão por tempo indeterminado dos seus voos para o Níger e, temporariamente, para o Mali e Burkina Faso, devido à “situação geopolítica na região do Sahel”. A companhia suspendeu “até nova ordem” os voos para Niamey, a capital do Níger, onde a Junta Militar no poder desde o golpe de Estado de há duas semanas encerrou o espaço aéreo do país na passada segunda-feira, refere um comunicado.
Isto significa que os voos de Paris para Lomé não farão escala na capital do Níger. Quanto aos voos da Air France para Bamako (Mali) e Ouagadougou (Burkina Faso) estão suspensos até sexta-feira. Os voos Paris-Accra, com escala na capital do Burkina Faso, serão assim directos.
A África do Sul qualificou o golpe de Estado no Níger de “perturbador” e manifestou-se esperançada em que a diplomacia permita o recuo dos militares golpistas, sem tomar posição a favor ou contra uma eventual intervenção militar da CEDEAO. A possibilidade desta intervenção no Níger divide o continente e até os membros do bloco de 15 membros da organização, após ter dado à junta golpista um ultimato de sete dias para se retirar, que expirou à meia-noite de domingo.
Até à data, os Governos da Nigéria, Benin, Côte d’Ivoire e Senegal confirmaram claramente a disponibilidade dos seus exércitos para intervir no Níger. Do outro lado, o Mali e o Burkina Faso, países governados por juntas militares, opõem-se ao uso da força e argumentam que qualquer intervenção no Níger equivaleria a uma declaração de guerra também contra si. A República da Guiné, Argélia e o Tchad também se opuseram à intervenção militar.
Novo Primeiro-Ministro
O líder do golpe de Estado no Níger, general Abdourahamane Tiani, nomeou, ontem, o economista e ex-ministro das Finanças Mahamane Lamine Zeine como Primeiro-Ministro, noticiou a agência Reuters. A nomeação foi anunciada num decreto lido na televisão pública pelo coronel Amadou Abdramane, porta-voz da Junta Militar, que se denomina de Conselho Nacional de Salvaguarda da Pátria (CNSP).
Zeine, de 58 anos, foi ministro das Finanças na era do antigo Presidente nigerino Mamadou Tandja (1999-2010) e ocupa actualmente o cargo de representante residente do Banco Africano de Desenvolvimento em Libreville, Gabão. O novo chefe do Governo nigerino substituiu Ouhoumoudou Mahamado, deposto com o Governo do Presidente Mohamed Bazoum, na sequência do golpe de Estado de 26 de Julho. O CNSP anunciou a demissão do Presidente e a suspensão da Constituição.
Diplomata dos EUA impedida de contactar Presidente
A Junta Militar recusou o encontro entre Victoria Nuland, vice-secretária de Estado dos EUA, e o Presidente deposto do Níger, Mohamed Bazoun.
De acordo com a Reuters, o antigo Chefe de Estado está retido no palácio Presidencial, no seu domicílio, em companhia da mulher e dos filhos.
“Foram bastante firmes sobre como querem proceder, e não é em apoio à Constituição do Níger”, disse Nuland à imprensa. Após uma reunião com representantes da Junta Militar, as conversações foram, disse, “extremamente francas e às vezes bastante difíceis”.