Milhares de cubanos foram às ruas neste domingo, 11 de Julho, em um protesto contra o governo e a crise socioeconômica na ilha, em meio ao agravamento da pandemia da Covid-19 e à escassez de alimentos e remédios. A dimensão exata das manifestações não ficou clara, mas trata-se de algo raro no país, onde o regime de Partido Comunista único considera a oposição organizada ilegal.
Em um pronunciamento à nação pela TV, o presidente Miguel Díaz-Canel adotou um tom combativo. Culpando os EUA pelos protestos e pela situação socioeconômica da ilha, ele disse que haverá uma “resposta revolucionária” e convocou “todos os comunistas a irem às ruas” para enfrentar as “provocações” incisivamente e com “valentia“.
“Terão que passar por cima de nossos cadáveres se querem enfrentar a revolução. Estamos dispostos a tudo”, disse o presidente, afirmando que a “ordem de combate está dada. Não vamos permitir que nenhum contrarrevolucionário, mercenários vendidos ao império americano (…) desestabilizem o país…”
Transmitidas ao vivo pelo Facebook, as manifestações começaram pela manhã na cidade de San Antonio de los Baños, a sudoeste de Havana, onde fica a sede da Escola Internacional de Cinema de Cuba. Aos gritos de “Pátria e vida” — nome de uma música lançada neste ano por rappers cubanos— mas também “abaixo a ditadura” e “não temos medo“, os manifestantes majoritariamente jovens marcharam pela comunidade de 50 mil habitantes. Soldados foram enviados à região e o contingente policial foi reforçado.
Díaz-Canel — que neste ano assumiu também o comando do PC , substituindo Raúl Castro, irmão de Fidel — esteve na região durante a tarde, acompanhado por militantes que gritavam “Viva Cuba” e “Viva Fidel”. Durante a visita, no entanto, a população continuou a gritar palavras de ordem contra a crise econômica. Em seu discurso, o presidente disse que os manifestantes eram pessoas que passam necessidades e revolucionários confundidos por “manipuladores“.
Manifestações similares ocorreram em outros pontos do país, como Palma Soriano, na província de Santiago de Cuba. O artista Luis Manuel Otero , um crítico do governo, convocou um ato no Malecón, a principal avenida à beira-mar de Havana. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram milhares de pessoas na região. Otero recentemente fez uma greve de fome.
Segundo a agência Reuters, a polícia usou spray de pimenta para dispersar alguns manifestantes e cassetetes contra outros. Não houve, contudo, repressão generalizada aos manifestantes. Seus gritos de “liberdade” e “Díaz-Canel, renuncie” abafaram os apoiadores do governo que gritavam “Fidel”. De acordo com a agência AFP, ao menos 10 pessoas foram detidas. O jornal El País, no entanto, fala em 100 detidos.
As autoridades também cortaram a internet móvel e linhas telefônicas nas regiões onde há protestos, segundo a agência Reuters.