As Forças Armadas da República Democrática do Congo (RDCongo) acionaram “mecanismos” com o exército ugandês de partilha de informações para combater os grupos rebeldes que operam junto às fronteiras dos dois países, anunciaram fontes oficiais na segunda-feira.
“Existem mecanismos conjuntos que nos ligam aos ugandeses. Estamos atualmente perante uma ameaça comum”, disse o porta-voz do Governo da RDCongo, Patrick Muyaya, numa referência velada aos rebeldes de origem ugandesa das Forças Democráticas Aliadas (ADF, na sigla em inglês).
O porta-voz explicou que esta relação não se concretiza com a presença de tropas ugandesas em solo congolês, mas através de um acordo de partilha de informações pelos dois exércitos.
“Estamos a recolher informações e a trocá-las com eles para orientarmos ações no terreno”, acrescentou Muyaya.
“Vamos intensificar as nossas ligações ao nível dos mecanismos de inteligência. Trocaremos informações assim que detetarmos uma ameaça, partilhá-la-emos com os nossos amigos ugandeses e persegui-la-emos”, explicou.
O Uganda foi palco este mês de três atentados bombistas suicidas, que a polícia atribuiu a membros da ADF, um grupo rebelde de origem ugandesa, agora baseado no leste da RDCongo.
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A polícia ugandesa acusou os rebeldes da ADF de atravessarem ilegalmente as fronteiras do Uganda para a RDCongo, viajando através de áreas remotas e não vigiadas.
As autoridades congolesas também atribuem à ADF um número elevado de ataques mortíferos contra civis nas províncias do Kivu Norte e Ituri, no nordeste da RDCongo, desde 2018.
Segundo dados compilados pelo Barómetro de Segurança Kivu (KST, na sigla em inglês), a ADF já matou mais de 2.020 pessoas em 361 ataques desde 2017 no leste da RDCongo.
Os objetivos desta milícia — associada pelos Estados Unidos à organização jihadista Estado Islâmico (EI), que reivindica, por vezes, os seus ataques, ainda que essa seja uma prática que não prova necessariamente essa ligação – não são claros.
O Grupo de Especialistas das Nações Unidas sobre a RDCongo não encontrou provas de apoio direto do EI à ADF, mas os Estados Unidos identificaram os rebeldes como uma “organização terrorista estrangeira” filiada no grupo jihadista em março último.
Desde 1998, o leste da RDCongo encontra-se submerso em conflitos alimentados por milícias rebeldes e ataques de soldados do exército, não obstante a presença da missão de manutenção da paz das Nações Unidas (MONUSCO), que tem deslocados no país mais de 14.000 capacetes azuis.
A ausência de alternativas e de meios de subsistência estáveis levou milhares de congoleses a pegar em armas e, segundo o KST, a região é um campo de batalha para, pelo menos, 122 grupos rebeldes, muitos deles genericamente designados como ADF.