O índice de criminalidade no bairro Belo Monte obriga à uma espécie de recolher obrigatório, a partir das 19 horas. Segundo moradores, os meliantes assaltam pedestres, principalmente, aqueles que não são conhecidos na área. A luta entre grupos rivais, com recurso a armas brancas, como facas, catanas e machados, tem resultado, com alguma frequência, em mortos e feridos.
No bairro Belo Monte, a forma como foram construídas as casas, sem seguir a quaisquer padrões urbanísticos, facilita a delinquência. Construídas de bloco e de chapas de zinco, as casas, tornam-se alvos fáceis dos marginais. Há igualmente várias construções sem quintais. A maior parte das ruas não é asfaltada e as estradas apresentam pequenos buracos que dificultam a circulação rodoviária. Há luz eléctrica, em algumas casas, e água potável em chafarizes. Entretanto, quando chove, a lama impede a circulação de viaturas.
Rebeca Samuel, vive no bairro, há três anos, e já foi assaltada duas vezes. Ficou despojada do seu telefone e dinheiro para fazer um negócio.
Miguel Domingos, morador no mesmo bairro, há seis anos, contou que meliantes, maioritariamente jovens desocupados e residentes na área, realizam assaltos com recurso a facas, catanas e armas de fogo, intimidando cidadãos que se dedicam sobretudo à venda ambulante.
João Francisco Luamba, 28 anos, é deficiente visual, com cegueira total. Vive num compartimento com a esposa, Felicidade Maria, e dois filhos, há oito anos, na zona do Belo Monte. Por volta da uma hora da madrugada, numa segunda-feira, a residência de João Luamba foi assaltada por quatro meliantes, munidos de catanas e facas.
Os mesmos, não conseguiram arrombar a porta de chapa, trancada com cadeado. Entraram pelo tecto, levantando as chapas que cobrem a pequena casa. Com medo, o casal escondeu, às pressas, os telefones depois de os desligar.
Já no interior, os delinquentes ameaçaram o casal com golpes de catana e faca e exigiram que lhes fosse entregue o dinheiro, ganhocom a venda ambulante que a esposa, Maria Felicidade, tinha feito no bairro e na Vila de Cacuaco. “Eu disse que era cego e não tinha telefone. Um deles respondeu, que sabia que eu era cego e que só queria o dinheiro e a botija de gás. Depois de conseguirem isso meteram-se em fuga”, contou João Luamba.
Com medo dos assaltantes, a esposa entregou 30 mil Kwanzas. Insatisfeitos, os meliantes levaram o televisor, a botija de gás e uma carteira com receitas médicas e alguns medicamentos do deficiente visual.
O dinheiro tinha sido emprestado ao casal, pela vizinha, com o compromisso de devolução, com juros, no final deste mês. Apesar dos juros”, dona Felicidade acreditava que podia obter algum lucro com pequenos negócios e diminuir as necessidades da família.
“Nem tivemos tempo de apresentar queixa à Polícia, porque a minha esposa está a andar de cima para baixo, à procura de dinheiro para comprar negócio e vender, tentando, assim sustentar a casa”, disse Francisco Luamba que acrescentou: ” para piorar, o televisor e a botija roubados estavam hipotecados”. Eram a garantia que a vizinha credora levaria, em caso de incumprimento do contrato.