Os moradores do Bairro do Povoado, nomeadamente as mais de 500 famílias que viram as suas casas de chapa queimadas pelo fogo causado por um incêndio provocado por um morador em estado de embriaguez, manifestam um autêntico clima de desagrado por saberem que vão ser realojados em Kaxicane, Município do Icolo e Bengo, Provincia do Bengo.
Os representantes da comunidade, que foram pegos de supresa com a notícia do novo local onde vão ser obrigados a morar, dizem que é inaceitável irem parar a mais de 60 quilómetros de distância da sua antiga moradia, pelo que mostram revolta por essa decisão das autoridades nacionais.
O local onde fica o Bairro Povoado, entre a Praia do Bispo e o Morro da Samba, é um aglomerado de casas de chapas que onde se falta quase tudo, desde luz a água, sem esquecer é claro da abundância de lixo e de moscas, bem como as valas com água suja onde brincam as muitas crianças que por ali se tentam distrair com jogos improvisados, pelo que os jornalistas da Rádio Nova puderam contestar.
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Os desalojados encontram-se actualmente ao relento desde 28 de Julho, dia do incêndio, onde têm recebido algumas doações de roupa e bens alimentares, da comissão administrativa de Luanda e organizações da sociedade civil, mas que os mesmos alegam serem insuficientes para as suas necessidades, segundo Talita Miguel, coordenadora da comunidade do Povoado.
Espalhados pelo chão, no meio dos detritos e do pó, há colchões, tendas, fogareiros caseiros, sem esquecer que muitos dos moradores por estarem sem trabalho e sem dinheiro, tentam ganhar o sustento com pequenos negócios, dedicando-se à pesca ou fazendo biscates.
A coordenadora do Povoado ainda diz que muitos jovens da localidade vivem do mar, pelo que levá-los para o Bengo significa também retirar o sustento da família.
“Se estiverem a pensar em realojamento, descartem essa hipótese, porque preferimos morrer e sair daqui nos caixões para nos enterrar, não nos metam no Bengo”, gritou Talita Miguel, apelando ao Presidente para que use as suas competências para lhes proporcionar um realojamento digno e “não se deixe enganar pelo executivo”