A Etiópia e o Egipto são os dois países africanos que aderem aos BRICS com a decisão anunciada ontem, no fim da cimeira do bloco iniciada em Joanesburgo, na terça-feira, uma entrada que marca um alargamento da organização que inclui a Argentina, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irão.
Os seis países tornam-se membros de pleno direito em Janeiro de 2024, depois da aceitação formal à adesão, ontem, com o bloco representado pelo acrónimo dos cinco países-membros (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a passar a ser constituído por 11.
A expansão foi anunciada pelo Presidente da África Sul, Cyril Ramaphosa, na apresentação das deliberações da 15ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo dos BRICS, que contou com a participação dos líderes do Brasil, Lula da Silva, da Rússia, Vladimir Putin (por videoconferência), China, Xi Jinping, e do Primeiro-Ministro da Índia, Narendra Modi. Pelo menos 69 países foram convidados para a Cimeira, incluindo todos os Estados africanos.
A expansão do bloco e a adopção de uma moeda para as transacções comerciais foram os principais temas da 15ª Cimeira dos BRICS, um encontro em que a África do Sul passou a assumir a presidência rotativa do grupo.
Cyril Ramaphosa anunciou que a Cimeira adoptou, também, a Declaração de Joanesburgo II, um documento que o líder sul-africano disse reflectir as principais posições dos BRICS “sobre questões de importância económica, financeira e política global”.
Segundo Cyril Ramaphosa, com esta Cimeira, os BRICS embarcam num novo capítulo para a construção de um mundo mais justo, inclusivo e próspero. “Os BRICS é um grupo diversificado de nações. É uma parceria igualitária de países que têm pontos de vista diferentes, mas que partilham uma visão para um mundo melhor”, afirmou.
A Cimeira, a primeira a ser realizada presencialmente depois da pandemia da Covid-19, decorreu sob o lema “BRICS e África: Parceria para o Crescimento Mutuamente Acelerado, Desenvolvimento Sustentável e Multilateralismo Inclusivo”.
O Presidente da União Africana, Azali Assoumani, considerou a expansão a países do continente africano (uma referência à Etiópia e ao Egipto, além da África do Sul) uma decisão que vai elevar as vantagens associadas à cooperação no bloco.
Na sua intervenção, Azali Assoumani realçou que África enfrenta problemas “inadmissíveis”, notando que, apesar de possuir 65 por cento das terras aráveis cultiváveis do mundo, regista, a cada ano, défices alimentares de mais de 20 mil milhões de dólares.
O líder da União Africana indicou, também, que a África tem matérias-primas, mas não tem capacidade para as explorar e transformar, considerando que a tecnologia e o conhecimento dos BRICS podem ser fundamentais para revolucionar a economia verde no continente.
Expansão e moeda
Com a expansão anunciada, as economias dos BRICS passam a representar 36 por cento do produto Interno Bruto mundial, acima dos actuais 23 por cento, assinalou o Presidente do Brasil, Lula da Silva, num discurso de saudação aos novos membros pronunciado no final da Cimeira.
O líder brasileiro acrescentou que o bloco vai permanecer aberto a novos candidatos, tendo sido aprovados os critérios e procedimentos para futuras adesões, no quadro do tema da expansão, que, ao lado da adopção de uma moeda comum, figurou entre as principais discussões do encontro.
Lula da Silva revelou que foi aprovada a criação de um grupo de trabalho para estudar a adopção de uma moeda de referência dos BRICS, a qual “poderá aumentar as nossas opções de pagamento e reduzir as nossas vulnerabilidades”.
Exemplo para reforma das instituições globais
A Rússia, China e a Índia destacaram, nas declarações finais, a importância da entrada de novos membros nos BRICS e sublinharam as vantagens dessa evolução, no quadro da cooperação económica.
Para o Presidente da China, Xi Jinping, a entrada dos novos membros representa um “marco histórico” e mostra a determinação para uma cooperação entre países emergentes.
“Essa expansão é também um ponto de partida para os BRICS e trar-nos-á mais vigor dentro do nosso mecanismo de cooperação. Vamos trabalhar em conjunto para escrever um novo capítulo para os países emergentes atingirem o desenvolvimento”, sublinhou.
O Chefe de Estado russo, Vladimir Putin, felicitou os novos membros dos BRICS, destacando como uma das questões mais importantes para o bloco a adopção de uma moeda de pagamento para as transacções. “É um tema complexo, mas, de uma forma ou de outra, vamos avançar para a solução para os desafios que se impõem”.
Por sua vez, o Primeiro-Ministro da Índia, Narendra Modi, ressaltou que o seu país sempre apoiou a expansão dos BRICS e, dirigindo-se a outros países que manifestaram interesse, prometeu um consenso para que possam participar como Estados-membros.
De acordo com Narendra Modi, a expansão e modernização dos BRICS é uma mensagem de que todas as instituições precisam adaptar-se aos novos tempos, acrescentando ser uma iniciativa que pode ser um exemplo para reformas em outras instituições globais.