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Papa fechou visita ao Canadá com indignação pelos abusos a indígenas

O papa Francisco viajou esta sexta-feira até Iqaluit, perto do Ártico, para concluir a sua viagem ao Canadá e pedir desculpas às populações inuítes, voltando a demonstrar a sua “indignação e vergonha” pelo “mal cometido” pelos católicos.

nunca nenhum papa tinha viajado tão para norte, até cerca de 300 quilómetros do Círculo Polar Ártico, para visitar uma cidade com 7.429 habitantes, metade dos quais membros dos inuítes, que vivem num lugar onde ficam isolados oito meses do ano.

Entre o final do século XIX e os anos 1990, cerca de 150.000 crianças indígenas foram recrutadas à força para mais de 130 destas instituições. Aí foram isolados das famílias, da língua e cultura, e foram frequentemente vítimas de violência. Pelo menos 6.000 crianças morreram nestas instituições.

A descoberta em 2021 de mais de 1.300 sepulturas não identificadas perto destas escolas provocou uma onda de choque no país, que está lentamente a abrir os olhos para este passado, descrito como “genocídio cultural” por uma comissão nacional de inquérito.

Em mais um momento de penitência por estes abusos durante a viagem, o sumo pontífice revelou que ouviu explicações de testemunhas que lhe transmitiram um “sofrimento imaginável”.

“Isso reavivou em mim a indignação e a vergonha que me acompanham há meses. Também hoje, também aqui, gostaria de vos dizer que sinto muito e quero-me desculpar pelo mal cometido por não poucos católicos que nessas escolas contribuíram para políticas de assimilação e desvinculação cultural”, realçou.

Francisco discursou perante várias centenas de habitantes, surpreendidos com a visita do papa a um lugar tão remoto do Canadá.

No seu discurso, o pontífice contou um relato de uma das vítimas: “os passarinhos cantavam alegremente ao redor da mãe. Mas de repente o canto parou, as famílias separaram-se, os pequeninos foram retirados de seu ambiente e o inverno desceu sobre todos”.

“Estas palavras, ao mesmo tempo em que causam dor, também causam escândalo”, sublinhou.

Francisco reiterou a vontade de que seja possível “percorrer juntos um caminho de cura e reconciliação que, com a ajuda do Criador, nos ajude a iluminar o que aconteceu e superar esse passado sombrio”.

Entre 1955 e 1969, pelo menos 324 crianças inuítes foram separadas dos seus pais e enviadas para morar em Turquetil Hall, uma residência católica, enquanto frequentavam a Sir Joseph Bernier Day School em Chesterfield Inlet.

Numerosos abusos sexuais de menores ocorreram nessas escolas.

Aluki Kotierk, presidente da associação que agrupa os inuítes, a Nunavut Tunngavik Inc (NTI), pediu ao papa Francisco para que um desses agressores, Johannes Rivoire, de 91 anos, regresse ao Canadá para enfrentar acusações criminais de abusos sexuais a crianças nas décadas de 1960 e 1970.

Rivoire, que vive na França, foi indiciado por agressão sexual contra crianças em Arviat e Whale Cove, entre 1974 e 1979.

No seu último dia no Canadá, Francisco também se encontrou com vários representantes indígenas, onde reiterou a dor que carrega pelo mal “que não poucos católicos” causaram a estas comunidades.

“Vim como peregrino, com as minhas limitadas possibilidades físicas, para dar novos passos com vocês e para vocês, para que a busca pela verdade continue, para que se avance na promoção de caminhos de cura e reconciliação”, sublinhou o papa Francisco.

Na conclusão da viagem, o sumo pontífice expressou que agora também se sente “parte” da família indígena.

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