O combate ao contrabando de combustível tem sido das principais dificuldades da Polícia Nacional no Zaire. O fenómeno recorrente e crescente na província tem forçado as autoridades a criarem uma rede mais activa para combater os infractores.
Um oficial da Polícia Nacional, que preferiu o anonimato, disse à reportagem do Jornal de Angola que a luta contra os infractores deve ser feita com maior envolvência dos Serviços de Inteligência e da população.
O contrabando, explicou, constitui umas das maiores transgressões fronteiriças, devendo por isso ser combatido de forma enérgica, através de punições severas aos praticantes”. Embora pareça um fenómeno sem fim à vista, segundo a alta patente da Polícia Nacional, ela pode ser contida, controlada e erradicada se Angola desenvolver um trabalho multissectorial em que sejam também envolvidas as populações.
Numa ronda que envolveu também automobilistas, revendedores de combustível e bombas de combustível, o Jornal de Angola apurou que os contrabandistas de combustíveis, na sua maioria cidadãos provenientes da República Democrática do Congo, utilizam os diversos canais navegáveis do imponente rio Zaire para desenvolver a actividade, muitas vezes, em plena luz do dia, desafiando as autoridades policiais.
Normalmente, como verificou o diário, os combustíveis são comprados durante o dia em recipientes de 20, 25 e 250 litros e transportados na calada da noite em embarcações de fabrico artesanal para a RDC, onde, segundo informações colhidas pelo Jornal de Angola, valem a “preços de ouro”.
Algumas fontes revelaram que o combustível angolano é comercializado no Congo Central, concretamente nas regiões de Muanda, Boma, Matadi e Tchela e depois encaminhado para Kinshasa, a capital da RDC, onde por via, também, através de redes clandestinas, é escoado para Goma, província do Kivu Norte, na fronteira comum com Uganda e Rwanda, região em permanente conflito entre as forças governamentais e os rebeldes congoleses.
Contornos do contrabando
A reportagem do Jornal de Angola constatou, ainda, que o combate ao contrabando de combustível tem sido difícil, pelo facto de existir ao longo da orla fluvial (rio Zaire), partilhada com a RDC, um total de 62 canais, muitos dos quais desguarnecidos. Associado a isso, está, também, o facto de os traficantes, muitos deles com residência no Soyo, receberem guarida de cidadãos nacionais ávidos de lucro fácil.
Na ronda efectuada em alguns postos de abastecimento existentes a nível da cidade do Soyo e bairros periféricos, foi possível constatar longas filas de viaturas ligeiras e aglomerados de pessoas munidas de bidões.
Numa das bombas visitadas, um aspecto despertou a atenção da equipa de reportagem: as referidas viaturas ligeiras encontradas nas filas, na sua maioria são envelhecidas e, segundo o que se apurou, os traficantes utilizam, preferencialmente, aqueles meios “caducos”, como novos modus operandi para a compra e transporte de combustível em depósitos adulterados, tentando, deste modo, ludibriar as autoridades, além do claro risco de fuga e eventual incêndio que correm.
“Esses carros todos velhos nas filas possuem depósitos adulterados, que podem levar entre 100 e 150 litros. Os contrabandistas utilizam, agora, estes meios para enganar as autoridades. Se ficarem atentos, poderão notar que são sempre as mesmas viaturas que aparecem nas bombas para abastecer várias vezes ao dia, o que é muito estranho”, denunciou, sob anonimato, um munícipe que encontramos numa das bombas de combustível.
Outros entrevistados apontaram, também, a venda de combustíveis em bidões como sendo outra prática que alimenta o contrabando na região. Os funcionários das bombas de combustível são acusados de tirarem proveito disso, pois, de acordo com informações, cobram aos clientes mil kwanzas da chamada “gasosa”, por cada bidão de 25 litros abastecido. Em função disso, eles preferem dar prioridade aos bidões, em detrimento das viaturas, facto que tem deixado agastado os automobilistas.
“Já estou aqui há mais de duas horas à espera para abastecer a minha viatura, mas a fila continua intacta, porque o pessoal das bombas apenas estão a atender os bidões, para tirarem proveito”, desabafou um jovem, que preferiu, igualmente, o anonimato.
O jovem, que aparenta estar na casa dos 28 anos de idade, defendeu a necessidade de haver uma maior actuação da Polícia Nacional, detendo os infractores e entregá-los às instâncias judiciárias, no sentido de desencorajar todos os que, ainda, insistem nesta prática. A nossa reportagem tentou aferir a reacção dos funcionários de algumas bombas de combustível, em relação às acusações de que são alvo, mas estes remeteram-se em silêncio.
O Jornal de Angola apurou ainda que, o contrabando de combustível, além de lesar o Estado em avultadas somas que deviam ser cobradas, por via de impostos, tem provocado constantes rupturas de stock de combustíveis no mercado local, criando, com isso, constrangimentos ao normal funcionamento das instituições públicas e de outros sectores da económica na região.