O Chefe de Estado do Senegal e Presidente em exercício da União Africana (UA), Macky Sall, propôs, quinta-feira (17), em Bruxelas, que África e a União Europeia (UE) se empenhem no reforço da paz e segurança e na luta contra as alterações climáticas.
“Trabalhemos juntos no reforço da nossa colaboração em matéria de paz, de segurança e de luta contra o terrorismo”, propôs Sall, na sessão de abertura da VI cimeira UE-UA, sendo esta a primeira de oito sugestões que apresentou.
O financiamento das economias africanas foi outra das propostas que apresentou, abordando o tema das dívidas nacionais e do impacto da pandemia da Covid-19 no continente, apelando a um financiamento.
Quanto à energia e alterações climáticas, Sall reiterou que as posições entre os dois blocos são “divergentes”, lembrando que África não se considera responsável pelo aquecimento global, na medida em que “emite menos de 4 por cento de dióxido de carbono” para a atmosfera.
África, referiu ainda, é “um continente não industrializado”, considerando “não ser possível exigir que renuncie às energias fósseis”.
“Pedimos simplesmente mais justiça climática e um acompanhamento por um período de transição que permita a África contribuir para reduzir o aquecimento global e, ao mesmo tempo, poder fornecer electricidade aos 600 milhões de africanos”, apelou.
Líderes da UE e da UA estão reunidos desde ontem, em Bruxelas, na VI cimeira UE-África, prevista para 2020 e sucessivamente adiada devido à pandemia, visando revitalizar a parceria entre os dois blocos.
A cimeira, que termina hoje, conta com a presença de cerca de sete dezenas de Chefes de Estado e de Governo dos dois continentes.
Os países africanos lusófonos estão todos representados ao mais alto nível na cimeira, com os Chefes de Estado da Guiné-Bissau, Umaro Sisso-co Embaló, de Moçambique, Filipe Nyusi e de São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova, o Vice-Presidente de Angola, Bornito de Sousa, e o Primeiro-Ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva.
A anterior cimeira teve lugar em 2017, em Abidjan, capital da Côte d’Ivoire.
Faki Mahamat: Europa deve “ir além da teoria”
O presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, pediu aos líderes da União Europeia (UE) para “irem além da teoria” e passem à prática do apoio a África, dizendo esperar “resultados tangíveis” da cimeira em Bruxelas.
“Agora temos de ir além da teoria porque, embora a convergência euro-africana seja uma convergência certa […], tem sérios problemas devido ao desfasamento entre as declarações e o impacto prático que deve ser capaz de transformar os nossos continentes”, vincou Moussa Faki Mahamat.
Falando, ontem, em representação da União Africana (UA) na cerimónia de abertura da cimeira com a UE, que decorre em Bruxelas, o responsável considerou serem necessários “ainda mais progressos para reforçar o consenso e ter em conta todas as sensibilidades”.
“A nossa parceria tem-se concentrado, até agora, na forma de aplicar eficaz e eficientemente as medidas estabelecidas no plano de acção, mas temos de conseguir alcançar resultados tangíveis”, exortou Moussa Faki Mahamat.
A título de exemplo, o presidente da Comissão da União Africana referiu que os “mecanismos clássicos” de financiamento e de monitorização “têm mostrado os seus limites”, defendendo por isso instrumentos “novos, mais flexíveis e eficazes que produzam melhores resultados”.
“Acima de tudo, temos de cooperar mais eficazmente em conjunto no combate aos fluxos ilícitos de fundos, especialmente quando retiram fundos de África. Precisamos de avaliações regulares porque isso nos dá o benefício de nos permitir fazer ajustamentos regulares e prever o futuro com mais segurança e controlo”, acrescentou.
Para Moussa Faki Mahamat, esta cimeira com a UE traz, ainda assim, “grandes esperanças” sobre uma “renovada e revitalizada cooperação” entre os dois blocos.
“As esperanças depositadas pelos povos dos nossos dois continentes são reais. Temos de garantir que não os desiludimos”, adiantou.