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Rebeldes tomam o poder em Damasco e declaram uma “Síria livre”

Os insurgentes declararam, ontem, Damasco ‘livre’ do Presidente Bashar al-Assad, após 12 dias de ofensiva de uma coligação liderada pelo grupo islâmico Organização de Libertação do Levante, juntamente com outras facções apoiadas pela Turquia, para derrotar o Governo sírio, informou a Reuters.

A 27 de Novembro, uma coligação de insurrectos liderada pela Organização de Libertação do Levante (OLL, herdeira da antiga filial síria da Al-Qaida) lançou uma ofensiva contra o Governo do Presidente sírio, Bashar al-Assad, e, em pouco mais de uma semana, controlou as cidades de Alepo e Hama, ambas capitais de província.
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), com sede em Londres e rede de informadores na Síria, já tinha indicado que, face ao avanço das forças rebeldes, o Exército e as forças de segurança tinham abandonado o aeroporto de Damasco. As “novas autoridades” sírias apelaram aos cidadãos “de todas as províncias para que tomem o máximo cuidado com os bens públicos, edifícios e instalações de todos os tipos, uma vez que pertencem ao povo e não ao regime terrorista de Bashar al Assad”.
Paradeiro de Bashar Al Assad
O Presidente da Síria, Bashar al-Assad, terá embarcado num avião, na madrugada de domingo, em Damasco, segundo dois oficiais superiores do Exército, e a aeronave, que inicialmente voava em direcção à região costeira da Síria, fez uma inversão de marcha abrupta e voou na direcção oposta durante alguns minutos, antes de desaparecer do radar.
Horas depois, confirmou que o chefe de Estado – a mulher, Asma, e dois filhos – tinham sido acolhidos pelas autoridades russas.
Várias agências noticiosas fizeram menção à chegada de Assa e família à Rússia.
Havia informações que apontavam para um avião da Syrian Air ter descolado do aeroporto de Damasco na altura em que a capital foi tomada pelos rebeldes sírios, segundo dados do Flightradar.
O mesmo meio adiantou que, de acordo com duas fontes sírias, há uma grande probabilidade de Assad ter saído em segurança, embora especulações contrárias tinham sido, igualmente, alimentadas.
“Desapareceu do radar, possivelmente o transponder foi desligado, mas creio que a maior probabilidade é que o avião tenha sido abatido…”, equacionou uma das fontes.
Mas,o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), geralmente uma entidade bem informada, anunciou, também, que o Presidente sírio deixou o país para a Rússia. “Assad deixou a Síria e saiu pelo aeroporto de Damasco, antes da retirada dos membros das forças armadas e de segurança” do local, disse à agência de notícias France-Presse (AFP) o director da organização não-governamental, Rami Abdel Rahmane.
Saliente-se que o gabinete de Bashar al-Assad disse, no sábado, que o Presidente continuava “com o seu trabalho e com as suas tarefas nacionais e constitucionais a partir da capital, Damasco”, ao mesmo tempo que salientou “que todas as noticias, actividades e posições consigo relacionadas provêm das plataformas da Presidência da República e dos órgãos de comunicação social nacionais sírios”.
Esta foi a primeira comunicação oficial da Presidência síria desde segunda-feira.
Grupos rebeldes anunciaram, ontem, num discurso na televisão pública síria, a queda de Bashar al-Assad, garantindo que libertaram todos os prisioneiros detidos ‘injustamente’, apelando aos cidadãos e combatentes para preservarem as propriedades do Estado.
Sucessão ao pai e chegada ao poder
Bashar al-Assad prestou juramento perante o Parlamento a 17 de Julho de 2000, tendo sido o único candidato numa votação organizada um mês após a morte do seu pai, Hafez al-Assad. A 10 de Junho daquele ano, no dia da morte de Hafez al-Assad, que tinha governado a Síria durante 30 anos, o Parlamento alterou a Constituição para reduzir a idade mínima exigida para o exercício da presidência, de 40 para 34 anos – a idade de Bashar na ocasião.
Bashar al-Assad tornou-se, assim, no líder das Forças Armadas e do partido Baath, no poder.
 “Primavera Árabe”
A Síria foi palco, em Março de 2011, de uma revolta popular, consequência da “Primavera Árabe” que se tinha desenrolado noutros países da região. A revolta foi reprimida de forma brutal pelo regime de Bashar al-Assad.
No mês seguinte, os protestos intensificaram-se e tornaram-se mais radicais.
O Governo lançou uma guerra contra os rebeldes, a quem chamou de “terroristas manipulados” por influência estrangeira.
Em 2012, a reposta das autoridades intensificou-se, com a entrada em ação de armas pesadas, incluindo de bombardeiros.
Apoio do Irão e Rússia
Em 2013, o movimento xiita libanês Hezbollah reconheceu que as suas tropas estavam a trabalhar com Damasco. Ao mesmo tempo, o Irão xiita tornou-se o principal aliado regional.
Al Assad pertence à comunidade alauita (10 por cento da população), oriunda do xiismo, enquanto a maioria da população síria é sunita, numa altura em que aquele último segmento vai tomar as rédeas do poder e dar por fim os 50 de poder da família Assad.
Países reagem com “alegria” e apreensão
Nos Estados Unidos, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional norte-americano, Sean Savett, declarou que o Presidente [Joe] Biden e a sua equipa estão a acompanhar de perto “os acontecimentos extraordinários” na Síria e que estão em contacto constante com os “contactos regionais”.
Para Donald Trump, que tomará posse como Presidente dos Estados Unidos em 20 de Janeiro, a “fuga” de Bashar al-Assad deveu-se à perda de apoio dos seus principais aliados, a Rússia e o Irão. Trump tinha, inicialmente, declarado que os Estados Unidos não tinham nada a ver com a guerra na Síria.
Turquia defende “transição suave”
Por seu lado, a Turquia, que tem apoiado certos grupos rebeldes, insta os intervenientes internacionais e regionais a garantirem uma “transição suave” após o “colapso” do regime sírio, declarou o chefe da diplomacia turca, Hakan Fidan, no Qatar
Londres saúda fim do regime sírio
O Governo britânico saudou, ontem, a queda do regime de Bashar al-Assad e apelou a uma “resolução política” na Síria, enquanto o enviado da ONU para Damasco pediu “cautela num momento decisivo” para o país.
China espera por estabilidade”
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China afirmou, ontem, esperar que a Síria “regresse à estabilidade o mais rapidamente possível”, após a tomada de Damasco pelos rebeldes islâmicos e a fuga do Presidente Bashar al-Assad, em paradeiro desconhecido.
“Pequim acompanha de perto os desenvolvimentos na Síria e espera que a Síria regresse à estabilidade o mais rapidamente possível”, escreveu o Ministério dos Negócios Estrangeiros num comunicado.
Finalmente, Berlim expressou o seu “alívio” com o anúncio da queda de al-Assad, com a ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, a alertar para o risco de ver outros radicais chegarem ao poder na Síria.

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