A estrela de TikTok, uma das pessoas mais seguidas da rede, nasceu no Senegal mas vive em Itália desde o primeiro ano de idade.
Antes, era conhecido pelas suas reações cómicas a vídeos no TikTok. Agora, é conhecido como cidadão italiano. Depois de ter crescido em Itália desde o primeiro ano de idade, a estrela de TikTok Khaby Lame recebeu na quarta-feira a cidadania italiana numa cerimónia em Chivasso, onde vive.
Khabane Serigne Lame nasceu no Senegal, mas vive em Itália desde que os pais se moveram para Chivasso, uma vila perto de Turim, no norte de Itália.
Durante a cerimónia solene, o criador de conteúdos de 22 anos afirmou estar “muito orgulhoso do momento”. “Sentia-me italiano antes de hoje porque sempre vivi aqui. Sinto um grande sentido de responsabilidade pelo juramento que prestei. Não são só palavras”, disse, citado pelo The Guardian.
Lame tornou-se conhecido em 2020, quando criou um canal de TikTok após ser despedido do seu emprego numa fábrica. Na altura, o norte de Itália era uma das regiões mais atingidas pela pandemia da Covid-19 e o italiano ficou famoso por reagir a vídeos de outros utilizadores, com as suas expressões silenciosas a constatar coisas óbvias. Em dois anos, o jovem atingiu os 148 milhões de seguidores, tornando-se na personalidade mais seguida da rede social.
Mas o processo ganhou contornos políticos e Khaby Lame não escondeu as suas frustrações com o processo de cidadania italiano. Segundo a lei, os filhos de cidadãos estrangeiros só podem pedir a cidadania quando atingem os 18 anos de idade, mesmo que tenham nascido em Itália e vivido no país a vida toda. Para jovens que tenham nascido fora do país, o processo é ainda mais complexo.
“Não é justo que uma pessoa que viveu e cresceu na cultura italiana durante tantos anos não tenha direito à cidadania. Não falo apenas por mim. Sempre vivi numa casa pobre e apesar de termos pouco, sempre fomos muito felizes”, defendeu Lame, numa entrevista ao italiano La Repubblica.
Mas há quem tente mudar a questão em Itália. A questão do ‘direito ao solo’ é um debate constante num país que acolhe tantos refugiados vindos do Norte de África, via Mar Mediterrâneo. O partido de centro-esquerda Partito Democratico (PD) defende o ‘direito ao solo’ – um direito que, em Portugal, entrou em vigor quando a Lei da Cidadania de 1981 foi alterada em 2020 e 2022, permitindo que os filhos de cidadãos estrangeiros nascidos em Portugal tenham cidadania portuguesa, se um dos progenitores viver no país há um ano.
Mas a direita e, especialmente, a extrema-direita italiana, que tem estado na linha da frente nos ataques ao acolhimento de refugiados e aceitação de cidadãos estrangeiros no país, opõem-se à mudança de ‘direito de sangue’ para ‘direito de solo’.
Giorgia Meloni, líder do partido conservador nacionalista Fratelli d’Italia, afirmou que o ‘direito ao solo’ é “um dos principais objetivos da esquerda”, cujas prioridades “mantêm-se fora da realidade e das necessidades do povo italiano”.
Muitas previsões apontam para Meloni como a próxima primeira-ministra de Itália, já que o Fratelli D’Italia está empatado com o PD na frente das sondagens, com cerca de 24%, e deverá vencer as eleições, aliando-se com a Lega (o mais conhecido partido de extrema-direita do país, de Matteo Salvini) e o Forza Italia, de Silvio Berlusconi.